Olá, povo que lê!
Vocês perceberam que semana passada não teve postagem de desafio de escrita, né?
Pois é, pela primeira vez o desafio nos venceu. Nos embolamos com nossos afazeres e não conseguimos postar nossos textos. Mas calma, pois postaremos o desafio da semana passada nesta semana e vejam qual foi o tema:
"Escreva algo de terror"
Pra quem me conhece, sabe o quanto não gosto deste gênero e quanto sou mole pra qualquer arte voltada a ele, quem dirá escrever. Só posso concluir uma coisa após esta experiência: estou com medo de mim mesma.
Pela primeira vez vou dizer: espero que não gostem! kkk!

O anel
Era a jóia
mais linda que eu já havia visto na minha vida!
Em
prata de lei, com arabescos em ouro que contornavam toda a circunferência,
remetendo a pequenas caudas gentis de cometas que se iniciavam em minúsculas explosões de diamantes que cravejavam o formato de uma estrela,
terminando os fios de ouro num bum de um enorme rubi adornado com brilhantes ao redor. O próprio anel parecia uma explosão estelar. Parecia um bigbang
em forma de joia.
Eu
nunca gostei muito de aparecer. Saí do ensino médio de forma morna, parda,
pelos cantos e consegui esse emprego na locadora de filmes na praça da
cidade. Pra ser quem eu sou, de vir do
nada e de ninguém como eu vim, conseguir um emprego desses, foi uma vitória,
mesmo eu tendo percebido o olhar de luxúria do Luís, dono da locadora, pros
botões da minha camisa xadrez. Mas na verdade o Luís é um cara legal.
Esquisito, as vezes vem com uns papos estranhos, mas legal, e ficar assim, em
exposição pra cidade toda, bem na esquina da praça central é demais pra mim que
nunca fui ninguém.
As pessoas começaram a me chamar de mocinha da
locadora. Porque o Luís se escondia atrás de mim, deixava que eu falasse com os
clientes, porque com toda aquela barba preta, aquela cara vermelha, parecia que
as pessoas não faziam uma boa impressão dele, mas mesmo assim, a locadora vivia
cheia e era interessante que, por mais que eu percebesse que as pessoas que
visitavam a loja, principalmente da primeira vez, gostassem de romance,
comédia, aventura, ou sei lá o que, por mais que eu recomendasse muitos tipos
de filmes diferentes, os clientes sempre eram atraídos para a enorme coleção de
filmes de terror e horror. Conforme as pessoas tornavam-se clientes, elas
abandonavam por completo as outras seções de filmes e vinham pegar filmes de
terror, no mínimo três vezes por semana. O movimento era incrível e
impressionante, mesmo o Luís ficando lá no fundo da locadora, atrás de mim,
atrás de seu computador, como uma sombra, a loja ia de vento em popa, com
muitos clientes e muito dinheiro entrando no caixa diariamente.
Certo dia,
depois de voltar da minha pausa diária para um café as 18h, encontro a locadora
absolutamente vazia, como nunca havia visto antes. Sobre o meu balcão, ao lado
do meu computador, uma caixinha de papel brilhante vermelho com uma fita que
parecia feita de luz dourada, iluminava o ambiente, repousada sobre um envelope
preto onde meu nome estava escrito com uma letra prateada linda, toda
rebuscada. Não era possível. Seria
realmente meu nome? Levei minha mão em direção à caixinha pois parecia ter imã,
com uma sensação de calor nas pontas dos dedos, eu me aproximava da caixa como
hipnotizada, não havia mais nada ao meu redor, era tudo névoa. Na minha frente
apenas o brilho da caixa e do meu nome no envelope. Delicadamente segurei o
pacote com a mão esquerda e com a mão direita abri o envelope e tirei o papel
negro escrito com mesma tinta e grafia:
“O poder em
suas mãos.”
Pisquei para a
carta, sem entender do que se tratava, mas eu tinha certeza que deveria abrir o
pequeno pacote e tomar para mim o que estava nele.
O anel.
Era a joia
mais linda que eu já havia visto na minha vida!
Automaticamente
levei-o ao meu dedo médio da mão esquerda, como se eu sempre houvesse sabido
que o anel deveria ficar ali, como se ele sempre tivesse sido feito para mim,
como se agora eu tivesse achado algo que estava perdido em mim.
Coloquei-o.
O mundo girou
num redemoinho vermelho e negro ao meu redor, um furacão que saia do rubi me
envolvia por completa e eu era um feixe de ouro. Vi passar em frente aos meus olhos
tudo o que sempre desejei e nunca tive, tudo que sempre sonhei e tive medo,
todos que sempre me ignoraram e eu fiz de conta que não vi. E tudo e todos se
transformaram numa mistura de ritual e festa regados a vinho, sexo e sangue. As
cenas se misturavam e meu coração iria perfurar o peito a qualquer momento e
saltitar para dentro do rubi, em um êxtase de orgia e luxúria.
- Ei, mocinha
da locadora!
Pisco. Pisco
de novo. Vejo o André na minha frente. O infeliz André que nunca sentiu a
paixão que eu tinha por ele no primeiro ano do ensino médio. Ele era tão lindo
naquela época. Mas hoje, o André... o que era o André? Um pedaço de carne?
Respondi com um gemido sedutor:
- Hummmm...
- Uau! Eu te
conheço, sim, eu te conheço! Você, eu sempre sonhei com você! Você é linda!
Nossa, gata, você...
Loucamente ele
foi pulando o balcão com as mãos em suplicas para agarrar meus cabelos.
Eu só ergui
meu braço esquerdo e coloquei minha mão em seu peito, segurando-o estático no
ar, no meio do pulo que ele havia dado. O rapaz pairava sobre meu punho e seus
olhos verdes queimavam num fogo amarelo.
- André, meu
querido, nunca fui para você, mesmo sem eu mesma saber. Mas você pode ser meu,
se quiser. Você quer?
Ele rosnou em
resposta, numa mistura de desejo, pânico e dor, estático, pairando sobre minha
mão que reluzia o enorme rubi.
Apenas
inclinei levemente meu dedo médio e o anel brilhou como chama sobre o peito de
André, que rosnando sentia seu coração sendo sugado para o rubi e num vulto foi
transformando-se numa fumaça negra que tão lenta quanto lindamente, era tragada
pela joia até existir apenas o seu
brilho reluzente.
Estico minha mão já vazia em apreciação ao
anel.
Por cima do
ombro olho para trás e vejo Luís, sentado em sua mesa, com dois cornos retorcidos
sobre sua testa olhando-me em admiração. Caminho até ele com toda a altivez de
uma rainha. Debruço-me sobre sua mesa e beijo-o profunda e longamente
finalizando o beijo lambendo uma gota grossa de sangue que escorre por sua
boca.
- Obrigada,
querido, pelo presente!
Ele tira da
gaveta uma caixa de filme com minha foto, segurando André pelos cabelos em uma
mão e seu coração em outra, onde o título se fazia “A vingança da medíocre” e
me diz
- O poder está
em suas mãos.
Aliso seus
longos chifres, cheiro o enxofre de sua barba retangular, lambo sua face quente,
tomo o filme de sua mão e vou languidamente guardar o primeiro de muitos de
minhas histórias na enorme coleção de filmes de terror/horror.
Enfim, é isso, ainda bem que não existem mais locadora!
Deixem suas impressões sobre texto aí abaixo e, se você resolver desafiar seus medos também escrevendo terror, nos mostre como ficou, ficaremos felizes em te ler.
Bjks e Boas Leituras!
@tworeadergirls
@cristianeolis78
@culinariaehorta
@leilabookcook
Depois dessa...ainda bem que não tem mais locadora mesmo kkkk
ResponderExcluirOlha eu amei...vc tem jeito pra escrever sobre terror hein😆😘
Menina, morro de medo, melhor não escrever mais sobre! kkk
ExcluirNossaaaaa!!! Estou boquiaberta com essa história Fabi. Senti arrepios de medo! Ameiiii! Você leva jeito sim, amei a linguagem poética. Parabéns!
ResponderExcluirObrigada, Kerley!!! Prefiro mesmo ficar numa pegada mais poética pra amenizar os medos e as dores da vida. Fico super feliz que te causei medo, a ideia era essa mesmo! kkk
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